sábado, 12 de novembro de 2011

SAUDADES


saudades


Brusca manhã bate à porta
Prantos de saudades
Prenhados de dores
Lágrimas paridas de ais
 Em todos os cantos
Onde esses rios choram
D’alma derrubam a comporta
Afogo-me na ausência de ti
Sede mal matada de te ver
 Fria tarde
Na sala de estar
O vento sibila teu nome
Bate portas e janelas
Com vontade de te ver
 Edson ovídio (Vontade de te ver)

O que seria a Saudade?

Uma forma de carência expressa por amarguras e magoas dispares pela falta de alguém? Ou será uma sintonia precisa entre seres que, de repente, descobrem mais um coração pulsando dentro de si?
Dia desses ouvi de um grupo de linguistas ingleses uma análise sobre o sentido semântico de várias palavras em diversas línguas, nessa conversa houve um esclarecimento sobre a forma do uso e os sentimentos evocados com a palavra “Saudades” no português, sobre a diferença entre o que chamamos saudade e o seu equivalente em Inglês. Há um sentido diferenciado, uma nuance diferente do que se usa nessa língua. Apesar de todos os povos serem capazes de sentir as mesmas emoções, porque todos os humanos tem um mesmo modelo psicológico, nossa língua deu a esses sabores semânticos de nossa língua deram a esse feixe de sentimentos e emoções o nome de saudade.
Durante a vida estabelecemos elos com uma miríade de pessoas e a medida que mais intensamente as queremos tão mais fortes e profundos tornam-se os laços. Somos tão parte das pessoas as quais amamos que a todo o momento sentimo-nos como se fossemos sois orbitando em torno de outros tantos ou como se de nós partissem diminutos fios que nos unem a outros e formando uma gigante teia de seres que o quanto mais distante o outro de nós se encontre, mais fortemente sentimos a força de atração que nos une a ele.
As vezes passamos a vida toda sem sentir o quão intensamente queremos aquele que está tão próximo até que o imperativo da distância afasta-nos desse alguém, então acordamos para a singularidade do querer bem, pois sopra a alma um vento intenso chamado saudade.
Nascemos para ser parte de um todo, numa constante e gostosa atração, vencendo tabus, preconceitos, infiltrando-nos pelas frestas das diferenças e indiferenças e, de súbito, descobrimos nossas almas em sintonia com várias outras e nossos corações batendo saudades.
 
Por Edson Ovidio





domingo, 6 de novembro de 2011

OS EXCLUÍDOS


Os Excluídos


"A pior coisa que a miséria te oferece / é a de tornar-te ridículo diante de todos."Fonte - SátirasAutor - Juvenal

"A pobreza é indispensável à riqueza, a riqueza é necessária à pobreza. Esses dois males engendram-se um ao outro e sustentam-se um ao outro. O que é preciso não é melhorar a condição dos pobres, mas acabar com ela."Autor - France , Anatole 
 "Um homem separado de um só homem é excluído de toda a comunidade” Aurélio , Marco


Diariamente passo por um ponto da cidade e diviso homens e mulheres amarfanhados ao relento e esquecidos de todos e talvez de si mesmos. Percebo suas faces disformes sob cabelos sujos e desgrenhados, trajes rotos, inchados pelo álcool, talvez, sob trapos como cobertores, grossas e encardidas peles dormindo ao abrigo da luz do dia. Sob a inconsciência dos dias que não sabem deles, a cegueira das drogas ou a carência de recursos para sobreviver.

Eu me pergunto: _ Em que fase de suas vidas foram parar ali? Será que a vida sempre lhes fora assim?

Há muitas historias, tenho certeza. Devem haver gênios perdidos , loucos e insanos, assim como os há entre os incluídos.

Há algum tempo atrás, eu e um amigo estávamos em Salvador e então resolvemos jantar no Pelourinho , subitamente abeirou-se de nossa mesa uma ilustre moradora de rua, de repente envolveu-nos com sua conversa inteligente e passamos algumas poucas horas ouvindo sobre ela e ao final fomos gentilmente escoltados até o taxi, como uma fera ela nos defendeu da abordagem de alguns desocupados .

Após alguns anos essa vivência ainda me deixa inquieto e estou sempre a meditar com os meus botões sobre a fragilidade das vidas. Apesar da segurança de nossos empregos, do calor de nossas famílias, nossa altivez e certezas e ao abrigo do teto que protege os nossos dias das inclemências do tempo.

A que castas pertencem os miseráveis?

São os degredados da vida, os excluídos da sociedade ou será que a carência de posses e recursos acorda algo na mente de alguém ou os faz perder definitivamente a identidade com a comunidade que passa e não os observa?

Cada ser em si, tem seus objetivos, sonhos, todos lidamos com amarguras, decepções e derrotas, porém nem todos nós somos capazes de vencer o que se nos apresenta a frente, Muitos seguem pelo caminho seguro, outros escalam os altos cumes e muitos se precipitam cachoeira abaixo e se prendem às tristezas abissais ou perdem-se em quaisquer dos calabouços mentais, como se vivessem em um mundo paralelo presas do álcool, drogas ou a decepção pelo insucesso e de si mesmos. Há Ícaros diversos que despencam de seus arrojados projetos e rastejam ate o final de suas vidas degredados da sociedade

Muitos de nós passamos ao largo dos seres desvalidos sem perturbação porque na vida sempre parece que somos cada um por si mesmo. Projetamos um sonho, porém não sabemos sobre as surpresas a frente, porque a vida é de aprendizado e o saldo do que fazemos a nós mesmos pode se traduzir em revezes impensados, em abandono, desequilíbrio e sermos presas de nossos próprios desvarios numa calçada da vida.

 Cada um dos seres que privatiza os espaços públicos tem sentimentos, riem, choram como qualquer um de nós, muitos seguem alheios e a deriva, mergulhando cada vez mais profundo no caos pessoal; outros sonham em emergir, outros tantos hão de conseguir. Há muitos seres que a maneira da fênix levantaram voo a despeito do mais adverso dos ambientes que tenham estado, a despeito de tudo e qualquer coisa em seu entorno. Nem todos, todavia acordam de volta a vida e sucumbem sob a hostilidade do desabrigo ,os desfavores do tempo e dos males da vida.

Quaisquer que sejam nossos nichos sociais, a camada social que vivenciamos, a altura do nosso voo, somos todos parte um do outro e formamos um só núcleo vivo e enquanto houver partes podres e esquecidas em nossa comunidade de seres jamais gozaremos do privilégio de vivenciar uma perfeita paz.

Por Edson Ovidio