sábado, 18 de fevereiro de 2012

Balões de Gás


"Há na minha vida quimeras distantes,
Quais nuvens errantes, em dias atrozes.
Eu corro atrás delas, mas elas, por fim,
Perdem-se de mim, no horizonte, velozes.

Há no meu diário silenciosas dores,
Quais flores que o vento desfaz de manhã.
Com elas me embalo nos dias soturnos,
Dir-se-iam «Noturnos», como os de Chopin....”
Alfredo Brochado (Quimeras)


Quando eu era criança assistia vez por outra, festivais de balões de gás que subiam muito e cada vez tão mais alto que pareciam tocar o céu. Eram multicores, alegres, festivos e irreverentes, sempre em bandos. Para onde iam ou seu dia seguinte eu nunca cuidei de pensar.
Eu teimo em dizer que simplesmente repetimos inconscientemente o que externamente representamos ou vemos no nosso entorno. Somos um universo em nós mesmos, somos isso, somos aquilo e passamos muito tempo sendo apenas balões de gás.
Vazios de vontade exceto do gás que os impulsiona para cima e então, à mercê do vento, voam e voam até que sem forças são arremessados de volta ao chão, pisoteados e então ninguém mais sabe deles.
Quando somos jovens, somos semelhantes a balões, inflamo-nos de quimeras e deixamo-nos conduzir pelos ventos das vontades alheias, tentamos ultrapassar as nuvens e roçar o céu e então somos arremessados cada vez mais perto do chão de nossas próprias incertezas e do nosso vazio.
Hoje em dia, cada vez mais observamos mentes jovens que seguem ao sabor de sentimentos que não são os seus, ébrios do fugaz do nada, da falsa alegria que hoje é e que então na ressaca vai embora. O que lhes importa o dia seguinte, se tudo ontem parecia tão certo e tão mais vibrante, quando se ria tolamente do que não se sabe o que tenha sido.
O balbucio das frugalidades costumeiras e a repetição de padrões tão banais impulsionados pelos vapores etílicos maculam muitas vidas e muitas vezes abrem feridas que tardam e  formam-se múltiplas escaras que jamais hão de deixar que você possa refletir você.
Somos sempre vitimas de nós mesmos, da irreflexão dos muitos instantes passados, da inconsciência de dias em que voávamos festivamente tão alto; dias que se se tornaram em nódoas, vincaram nossas peles, minaram nossas forças quando toda a nossa energia era o voo de um balão de gás.



Por edson Ovidio




domingo, 12 de fevereiro de 2012

SINGULARIDADES




Quem sou eu? A minha singularidade dissolve-se quando a examino e, por fim, fico convencido de que a minha singularidade vem de uma ausência de singularidade. Tenho mesmo em mim algo de mimético que me impele a ser como os outros. Em Itália sinto-me italiano e gostaria que os italianos me sentissem como participante na sua italianidade. Outro dia, ao falar a um auditório da Champanha senti-me champanhizado. Ah sim, gostaria de ser como eles. Adoro ser integrado e, contudo, não sou inteiramente de uns e dos outros. Poderia ser de todo o lado, mas nem por isso me sinto de alguma parte, estou enraizado assim.
Não é o exercício de um talento singular nem a posse de uma admirável verdade que me distinguem. Se me distingo é pelo uso não inibido ou cristalizado de uma máquina cerebral comum e pela minha preocupação permanente em obedecer às regras primeiras desta máquina cognitiva: ligar todo o conhecimento separado, contextualizá-lo, situar todas as verdades parciais no conjunto de que fazem parte.
Edgar Morin


Singularidade é qualidade do que é singular, único, só; O que é peculiar a um só indivíduo e não aos outros. ; Particularidade. ; Modo extraordinário de proceder ou de pensar.
Cada ser si é único como veiculo de expressão de sua individualidade, fractal de um todo dinâmico, uma nota exclusiva e essencial de uma grande sinfonia.

Somos uma porção da vida, delimitada pela nossa individualidade, personalidade, inteligência e a essa porção impregnamos com  o nosso melhor.

Porém, a luta pela sobrevivência vela o brilho intenso de nossas luzes interiores, á medida que transformamo-nos de crianças em homens; de homens em máquinas o que nos importa é a escalada rumo ao topo, ao ter e o ser e ao mundo transparece apenas o tênue facho que chamamos de personalidade.

Quando enfim, nos descobrimos seres pensantes, gradualmente abandonamos o mundo infantil, nossa primeira grande vontade é a de pertencer a um grupo, ocupar um lugar como peça integrante de uma engrenagem qualquer e que nos induza a um movimento, seja ele qual for, talvez diametralmente diferente do que pensamos ou contrários a nossa essência, mas que fundamentalmente nos acolha e nos molde a sua imagem e semelhança. Passamos então a refletir luzes externas em detrimento do que, de verdade trazemos em nós.

Podemos estar sob outras luzes, permitir que outros tons matizem-se com os nossos sem  que acinzentem ou enegreçam o nosso brilho, outros sons encubram e calem nossos próprios sons e outros aromas  sejam notas que componham e valorizem o nosso.

Cores, sabores, fragrância e tons do que somos, somam-se a milhares de outros, portanto não prive o mundo de tudo o que você é, o que de verdade pode ser. 

por Edson Ovidio