sexta-feira, 15 de julho de 2011

O FIO DE ARIADNE

O fio de Ariadne

Segundo a mitologia Teseu, um jovem herói ateniense, sabendo que a sua cidade deveria pagar a Creta um tributo anual, sete rapazes e sete moças, para serem entregues ao insaciável Minotauro que se alimentava de carne humana, solicitou ser incluído entre eles. Em Creta, encontrando-se com Ariadne, a filha do rei Minos, recebeu dela um novelo que deveria desenrolar ao entrar no labirinto, onde o Minotauro vivia encerrado, para encontrar a saída. Teseu adentrou o labirinto, matou o Minotauro e, com a ajuda do fio que desenrolara, encontrou o caminho de volta. Retornando a Atenas levou consigo a princesa.



O mito de Teseu e o minotauro  ou conforme o título que ora faço uso,  “ O fio de Ariadne”   tem servido como pano de fundo a muitas teorias e conceitos filosóficos, místicos, psicológicos ou muitos outros campos de estudos onde a mente humana pode trilhar.

Bom ! Cada um tome o mito acima da forma que melhor lhe aprouver,  sob o ângulo que melhor lhe agradar . Sob o prisma da lógica, resolução de problemas, fatos empíricos , porém  do meu lado eu penso que as mitologias  nos falam sobre arquétipos , nos falam sobre facetas da sabedoria  um tanto além dos aspectos  comesinhos da vida.

Por que resolvi falar sobre o “Fio de Ariadne”?

A mim o mito  fala-me muito claramente sobre nossos monstros internos e  o que devemos fazer para enfrentá-los ou  para enfrentar-nos. A mim me encanta a busca da sabedoria  pele adentro.

Fundamentalmente cada um de nós tem seus próprios caminhos, muitos se valem de si mesmos, da sabedoria inata que os conduz com maestria , outros se norteiam por princípios religiosos, outros tantos se perdem  sem mesmo  arriscarem um passo dentro de si mesmos.
Há muitos que  se buscam em fatores externos a si mesmos , fórmulas mágicas, pactos, valem-se  das muitas  indulgências  para os erros cotidianos e vários outros se valem da auto-complacência  para os desvarios  do berço ao túmulo

Cada dia de nossas vidas  aparecem  abrir e fechar  portas , novas percepções , novos fatos, novos medos , novas ameaças ,traços de felicidade, sombras de tristezas. Perdemo-nos  em ilações sobre como será nosso amanhã, como havemos de cruzar o próximo umbral.  Há Situações e fatos que nos conduzem das luzes às sombras ou vice-versa. Atrevemos sempre em passos trôpegos  corredor a dentro , ora presos por temores, ora   levados pela esperança.

Todos procuram a felicidade, vencer medo, buscar a verdade, a realidade mais a clara para sua própria compreensão  .

O nome Ariadne quer dizer “O mais sagrado”  e eu penso que a chave para a aniquilação dos monstros de nossos recônditos labirintos  é localizarmos o fio dessa essência  cuja ponta podemos prender firmemente a nossos corações e nos conduzirmos vencendo todos os vorazes inimigos interiores.


Por Edson Ovidio

terça-feira, 12 de julho de 2011

A MENTIRA




Mentira


"A mentira apenas é um vício quando faz mal; é uma grande virtude quando faz bem François Voltaire

"O que tem feito mal a muita gente não é a mentira; é o invólucro de palavras artificiosas com que se doira a algema que as verdades lançam ao pulso do homem.                   Camilo Castelo Branco

A mentira mais frequente é aquela que alguém faz a si próprio; mentir aos outros é um caso relativamente excepcional.
Friedrich Nietzsche

Neste ensaio gostaria de ampliar o conceito da mentira, desqualificá-lo como um mecanismo unicamente da fala e que causa repulsa e asco a quem o entenda assim e estendê-lo a nossa personalidade sobre a qual ancoramos princípios e conceitos.
Todos nos mentimos, isso é um fato, ainda que muitos não admitam a si mesmos.  Quer por isso, ou por aquilo, quer por fatores religiosos, falso moralismo ou pela forma distorcida como lidamos com nossa realidade interna e externa. Nossa autoindulgência oculta nossas micro e macro falhas, as pequenas e grandes fissuras que criamos em nós mesmos e que, de repente,  podem tornar-se desfiladeiros.
Não seriam as múltiplas facetas de nossas personalidades mentiras que incorporamos em torno do mesmo assunto?  O EU?
Com que frequência somos coerentes com os nossos pontos de vista?
Somos seres parte de um todo maior, emitimos cotidianamente pareceres que podem ir bem além do nosso mero circuito  familiar  e que podem ganhar  o mundo com grande velocidade. Muito do que pensamos talvez contrariem realidades que ainda não caibam em nossos pequenos cadinhos conceituais.
Quando falamos de Mentira e verdades, parece-me que lidamos com conceitos elásticos, ao passo que se falamos sobre realidades falamos tão somente da imagem que se forma sobre a tela onde projetamos o nosso foco de observação ou a coisa que podemos  medir, pesar, tocar, cheirar, ver , sentir.
Num contexto maior talvez a mentira se dissolva em conceitos que podem tornar-se o centro de ideias ou antíteses  e  reunir ao seu redor seres que comunguem com visões  desfocadas, fragmentadas ou equivocadas sobre um tema.
Grosso modo, todos os conceitos são relativos, mesmo os que pensamos sobre nós mesmos e se tornam mentiras quando se antagonizam com o nosso ideário particular ou de outrem, contrariam nossa visão direta sobre fatos, coisas ou eventos ou estão em contraponto com a unanimidade de outros. Mas então, uma vez mais a unanimidade não é prova incontestável de uma verdade e sim uma visão relativa sobre um determinado ponto ou realidade.
A semântica da palavra talvez possa gerar muitas divagações a seu respeito. Acho, porém que a noção mais concreta e que mais caiba em nosso referencial seja apenas a que impressione nossos sentidos ou da cabal prova que emitimos pareceres não aceitáveis sobre uma realidade.
Dentre as muitas mentiras que possamos produzir nada causa mais dano do que a divergência entre a forma com pensamos e a maneira como agimos, sobre as ideias que defendemos  e a nossa contrapartida na vida. Pele  adentro, caminhamos pelos caminhos mais fáceis, entre lisonjas e nos desviamos dos auto enfrentamentos então pouco se nos importa as mentiras internas se estão satisfeitos os nossos sentidos externos.

Por Edson Ovidio