sábado, 28 de maio de 2011

NOSSOS RÓTULOS E MARCAS

Máscaras

 "Uma personalidade não é mais do que um erro persistente.""Françoois Jacob 

“..... toda a realidade individual tornou-se social e diretamente dependente do poderio social obtido."Guy Debord

"Talvez os objectos sejam consoladores. Em especial os antigos, feitos de barro, feitos por homens com outra mentalidade. Os objectos são aquilo que não somos, aquilo que nunca chegaremos a ser. Será que as pessoas fazem as coisas para definir os limites da personalidade? Os objectos são os limites de que necessitamos desesperadamente. Mostram-nos onde terminamos. Dissipam temporariamente a nossa tristeza." Don DeLillo, in 'Os Nomes' 

Em meus textos  e divagações filosóficas eu falo muito sobre as etiquetas, marcas, rótulos, cargos  e camadas, nesse ensaio , em especial , quero relatar minhas observações  particulares  sobre como as pessoas se vergam sob o peso  das couraças  que insistem em colocar sobre si mesmas.
Certa vez eu vinha eu de Vitoria da Conquista em direção a São Paulo, e esperava o avião em Ilhéus .   Na sala de embarque , de repente, toda a população  lá dentro  estava trajando terno,  todos homens e curiosamente apenas eu com trajes normais , eu me senti  um estranho no ninho, todavia, humildemente assumi minha desimportância  pontual. Próximo fato,  o sistema de alto-falantes anunciou  que não haveria marcação de lugares para o  voo , então foi dada a ordem de embarque, as pessoas então pressurosas  e irrequietas praticamente corriam para a porta de embarque para pegar o melhor assento no avião. Então eu conclui que  todos eramos absolutamente idênticos , porém sob a máscara da importância  e esse fato causou me  forte impressão e levou me a  muitas reflexões sobre as personalidades, sobre as nossas facetas de atuação, sobre os disfarces necessários a nossa atuação cotidiana.  Por que convencionou-se que todas as nossas roupagens, todas as nossas escaramuças, nossas farças,   a imponência de nossas casas,  nosso automóvel de auto custos valem  bem mais do que seu proprietário  e qualifica e promove o que esta sob ela.

Que tipo de pessoa se esconde por trás de suas mascaras?

Se alguém se lembrar dos primeiros tempos do celular, certamente vai  observar na parede da memória   mocinhas  carregando o celular com os braços a noventa graus estendidos  ligeiramente a frente do corpo empunhando elegante e ostensivamente o celular ou vai lembrar-se do amigo portando um celular na cintura bem visível e com os braços ligeiramente abertos para destacar tão precioso bem.

Trabalhei numa empresa  em um prédio  imponente na  Av.Paulista   e as pessoas  que ocupavam o andar superior dessa mesma empresa sentiam-se francamente mais  superiores ; estava implícita impregnação em seus egos da altura relativa do andar que ocupavam e a  importância da marca associada da empresa; as pessoas ignoram sua presença , como se simplesmente não o  vissem .

 Certa feita em que eu e meu amigo tomamos o elevador do prédio em que travamos, nele estavam o presidente da empresa e uma gerente; entramos e dissemos boa tarde,  eu cruzei pelo meio de ambos e estrategicamente , eu e meu amigo ficamos nos olhando e rindo porque nosso boa tarde parece não ter sido ouvido e estávamos aparentemente invisíveis dentro de um pequeno elevador , ocultos pela superioridade dos outros dois.

Os símbolos  do poder, os ícones da importância vêm e vão como o vento, todavia sempre corremos atrás de quimeras,  disfarçamo-nos por detrás de estatuas de barro , que certamente a inclemência do tempo há de erodir. Nossa passagem por fatos e situações  passageiras  haverá sempre de ser assim, todavia o apego a temporalidade das coisas faz de nós um simples joguete das ilusões que há em sua mente.

Eu acho que todos devemos nos sentir importantes, as vezes, porém nada mais perigoso do que a viciação do EU  a coisas externas a si mesmo, porque não somos e nunca seremos  os títulos, o peso do salário, a rosbutez  do patrimônio, funções, cargos, etiquetas, notoriedade, as tintas e a cosmeticidade efêmera dos campos de atuação do humano.

 As vezes nos sentimos importantes em demasia, porque somos ainda infantis ou estamos imbecilizados pelos objetos de poder, pela força da tecnologia que com maestria lidamos , pela imponência reluzente de nossos carros que como crianças discutimos pneus, freios, pintura, design e desempenho diariamente .

Somos o substrato humano sobre a terra, muito mais do que qualquer coisa que possamos criar, muito mais do que qualquer totem brilhante que possamos ter , comprar ou construir, muito mais do que quaisquer títulos que possamos pendurar em nossa rápida passagem pelos campos da vida.

Que tesouros você pode tirar de si mesmo? Quais os valores da alma que você compartilha com a humanidade?


Por Edson Ovídio 

domingo, 22 de maio de 2011

DESVIVER


Desviver



"Quanto mais se vive, menos se sabe por que se vive."
Fonte - DiáriosAutor - Christian Hebbel
"Não podemos viver apenas para nós mesmos. Milhares de fibras ligam-nos aos nossos compatriotas humanos.
" Autor - Hermann Melville
"Temos tanta pressa de fazer algo, escrever, amontoar bens e deixar ouvir a nossa voz no silêncio enganador da eternidade que esquecemos a única coisa em relação à qual as outras não são mais do que meras partes: viver." 
Autor - Robert Stenvenson
 "Vivemos sob rótulos e amarras, mascarados de verdades postiças e de disfarces emprestados".
Fonte - Navegante Autor -  Paulo Bonfim

Somos muitos e pensamos tão pouco; somos tecnologicamente tão avançados, porém sumamente retrógrados e compreendemo-nos quase nada. Por que será que insistimos em aniquilar a essência que nos alimenta e saímos a procurar valores onde não os há?. Ignoramos, porém temos fome dessa essência; dê a ela o nome que melhor lhe aprouver. Permanece  escondida em algum lugar dentro de você mesmo e plenamente acessível se volvermos nosso foco de atenção para ela.

Essa semana eu procurei buscar um tema e titulo que designam-se o que eu percebo de nossas vidas, a forma como lenta e gradualmente destruímos todas as rotas de acesso ao si mesmo, a forma como perdemo-nos desde nosso ponto inicial até o momento que fechamos os olhos para essa existência, a forma como desconstruímos a nos mesmos e nos perdemos na busca desenfreada de valores externos em detrimento do que de verdade devemos.

Todos somos veículos de expressão únicos do grande absoluto, pequenos grandes receptáculos no jogo da vida ; poucos sabem para qual direção exatamente caminham,  quais os valores objetivos a serem considerados e poucos o fazem com empenho e maestria, muitíssimos poucos porém  realmente estão interessados em quaisquer buscas.

Nascemos com vigor, gozamos a nossa infância, tornamo-nos adolescentes e então desaprendemos a viver, passamos a conspirar contra nós mesmos e  incontinentemente  entregamo-nos ao jogo do desviver, enfaixando a vida com sentimentos amargos e antagônicos e forças que conspiraram contra nós mesmos.

Somos incapazes de gerar   um padrão criativo dentro dessa expressão única que somos, preferimos sempre trilhar pelos erros alheios, por modelos viciados e incertos, juntar-nos a grupos que rumam a lugar algum e segue coisa alguma, a viciação dos sentidos em consonância com todos os modismos; somos o grito da moda, presa dos valores externos.
Desviver, para mim designa essa gradativa desconstrução de nossa real identidade, desfocar-se do real sentido da vida, colocar-se em marcha reversa, fazer-se oco  , tornar-se espelho  fosco onde se deve refletir coisa alguma, exceto nossos  próprios egos  e falhas.
Vivemos mundos paralelos que não são nossos, abrimos portas as quais jamais deveríamos ter aberto, perdemo-nos em caminhos onde jamais deveríamos estar, vivemos a casca e ignoramos o fruto.

Quaisquer que sejam a forma como você observa o seu universo  interior, tome conta dos seus  ideais com o seus reais anseios , seja um colaborar ativo do seu próprio mundo.


Por Edson Ovídio