Sementes do ódio |
"A ignorância é a mãe de todos os males."Autor – François Rebelais
Nesta semana ouvi de uma mulher no metro, frases
inusitadas. Ao telefone, falava ditosamente a sua amiga do outro lado da linha sobre as
vantagens do seu Deus e tecia comentários desairosos sobre o Deus de um amigo
dela.
__ “... o Deus do amigo é segundo ele o arquiteto do
universo e o... (sic)”.
Passo seguinte, a moça comentou sobre o seu Deus, o Verdadeiro,
segundo ela. Ela falava com um desprezo tão grande contra esse outro tal Deus
do amigo, e então pensei sobre o fato e a mim me soou risível, mas dai então me
peguei divagando sobre algumas considerações sobre a tal conversa.
Recebi também a noticia, nesse mesmo dia, de que um amigo
recebeu um sms de ameaça de alguém membro de uma escola de filosofia afamada,
porque meu amigo divulgou ideias de sobre um assunto de domínio publico e que
de alguma forma ofende essa escola.
Ambas as histórias estabelecem um paralelo surpreendente
e a mim, as ações parecem partir de sementeiras diferentes, todavia submetidas
as, mesma distorções a que são submetidas qualquer ideia que germine entre nós.
Cruzam e cruzaram pelo nosso planeta homens além do seu tempo,
com ideais maiores que si mesmo, que alimentaram-nos com pensamentos arejados
sobre uma variada gama de assuntos sobre os quais o humano é o pano de fundo. Com
toda certeza polarizaram e fizeram orbitar em torno de si pessoas que beberam em
profusão do que diziam, do que faziam e cada um procurou emular em si o que
esses personagens foram para o seu tempo.
Todavia cada ser responde de forma diferente a todo e
qualquer estímulo externo e cada ser age segundo a forma como lê, interpreta o
mundo ou segundo a forma como abraça essa ou aquela ideia.
Ouvimos e admiramos os grandes homens e seus grandes feitos,
ideias e palavras, porém à medida que trazemos ideias maiores ao nosso estreito
e pequeno mundo, limitamos o entendimento a tudo isso e por consequência a
resposta também se dará como um harmônico de menor brilho e intensidade e por
vezes, divergente do ícone que tentamos nos associar.
Os luminares passam e passaram, porém deixam após sua
passagem um arsenal de boas virtudes, que são então desposadas por outras
pessoas, ganham peso, sabor, tempero, densidade e tintas diferentes do original.
As ideias se travestem com roupagens novas e diversas e são então blindadas nos
claustros da ignorância.
As correntes filosóficas que banham as nossas mentes,
ganham por vezes aspectos ritualísticos e distorcidos de forma a atender a
limitação do nosso entendimento ou a interesses de grupos aos quais pertencemos , desviam-se,
então, para o sectarismo hermético e cosmético, abandonam o usufruto do luminar original e as
palavras velam-se na ignorância, na cupidez, obtusidade e na insensatez dos
dogmas e tabus sobre ideias que
transcendem o que pensamos.
Os dogmas, os tabus são os pais do ódio que
inconscientemente germinam quando cismamos achar que o nosso próximo esta sob
os auspícios de uma natureza menos digna ou que ele saúda a uma força geradora,
diferente daquela que nós mesmos compreendemos.
Pense nisso!
Por Edson Ovidio