Viva a Criança |
"Nunca
ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança.
"
Victor Hugo”
"Sufoca-se o espírito da criança com
conhecimentos inúteis.
"Voltaire”
"As crianças não têm passado, nem
futuro, e coisa que nunca nos acontece, gozam o presente.
"Jean de La Bruyère”
Dia desses, tomei o troléibus para um trajeto curto entre
diadema e São Bernardo, coloquei-me num espaço reservado a cadeirantes, contra o
vidro que separava o piso mais alto com assentos e o lado com piso rebaixado. Do lado elevado,
junto ao mesmo vidro, uma criança brincava consigo mesmo , movimentando-se para
lá e pra cá, rindo para o seu mundo e então olhou-me , esboçou um sorriso, passou o bracinho pelo
vão do vidro, ofereceu-me sua mão,
cumprimentando-me à maneira que fazem os jovens e então fez um gesto de
positivo mantendo o leve sorriso e incontinente retomou o seu mundo de faz de
conta.
O gesto me devolveu a calma ao agitado dia, após ter dado
duas aulas e por final a chuva que me encharcou os pés e tênis, a mim foi uma
generosa paga pelo dia como voluntário
A mim o que mais me impressiona com esses fatos insólitos
e por vezes imperceptíveis ao nosso mundo adulto é que esses pequenos seres são capazes de grandes
coisas, como se por magia envolvessem-nos num momento de ternura e contentamento;
olham-nos direto nos olhos e então repassam um gostoso sorriso, como se
enxergassem bem além da nossa barreira cosmética.
O mundo adulto nos priva de sensações e de um universo de
percepções e experimentações que um dia tivemos. As regras, tabus, máscaras de convívio
somam fatos aos nossos anos, velando mais e mais a forma lúdica como víamos e sentíamos
o mundo e que então com um preciso
cinzel gravavamos em nossas memórias as melhores recordações de nossas vidas.
A vida é nada mais que uma escola em que as etapas do viver acrescentam um pouco do que havemos de ser pela nossa romagem terrena a cada dia, todavia
dos primeiros fatos da nossa existência, deixamos que nosso sábio mundo
infantil se perca na estreiteza da visão adulta, nas incertezas de todos os
dias, na busca desesperadas por um futuro que esta sempre um passo além ou na insana
mania de repetir em nós modelos rotos e
seduzimo-nos por grupos que repetem comportamentos, sentimentos e atitudes anacrônicos.
Passamos assim da idade infantil a idade imbecil onde
perdemos o foco das soluções fáceis de quando eramos crianças, quando tudo se
resolvia com um sorriso ou que o trocar de mal era magicamente deixado para
trás com uma pergunta gentil:
__Posso brincar também?
(Essa é uma singela homenagem a Criança que habita nos pequenos corpos e também dentro de cada um de nós)