"A
única e autêntica liberdade do ser humano é a do espírito, de um espírito não
contaminado por crenças irracionais e por superstições talvez poéticas em algum
caso, mas que deformam a percepção da realidade e deveriam ofender a razão mais
elementar."
- José Saramago.
Na antiguidade o clero vendia indulgencias e os
poderosos as compravam com medo da ira divina. Eram tempos de ignorância ,
terminava quase a idade média, a igreja
negociava as graças de Deus. Todo e qualquer crime tinha perdão, caso o fiel
pagasse o preço dos facilitadores do céu. Havia então 35 condições de
pagamento, mas tudo tinha seu perdão, todas as culpas removidas até a isenção
da danação.
Era o fim da idade das trevas, os poderosos
possuíam as leis, os de menos posses estavam sujeitos a elas. As religiões
falavam do imponderável, tinham nas mãos reis e rainhas, faziam trocas e
escambos, tratos e distratos em nome dos céus. Eles escreviam em nome de uma
divindade mercantil negociando o peso dos pecados, sinalizando com a censura
aos tabus, as culpas e cismas pesavam sob os ombros de muitos.
Ora sob a insânia de governantes, ora sob o pouco
sagrado das religiões, moldaram-se os povos, os costumes e as tradições, forjaram-se
a leis.
Caminhando em direção à modernidade, cá estamos nós,
olhando para trás no tempo e parecemos um tanto distantes de tudo, temos agora
tintas mais fortes da modernidade, mais tecnológicos, mais civilizados, mais
cosméticos. Todavia, sob cismas, culpas e pecados ainda somos os mesmos.
O
mercantilismo da fé soa ainda mais alto aos nossos ouvidos, falam de um Deus
ainda mais iracundo, os interlocutores da divindade negociam perdões e anunciam
o fim de mundo.
Desprotegidos de seus
governantes, disputados por duas forças, o bem e o mal, os carentes se guardam ao
abrigo da fé a procura de quem lhes de o céu e lhes de opulência, resolvam o não-ter,
o não-ser, o desespero.
No passado, os de posse
compravam seu salvo-conduto. Hoje, os arautos dos céus acenam com cores e novos
atrativos, com carros, posses, cargos e bens e a ignorância tira daquilo que já
não tem e doa aos que já muito tem.
Ignorantes!
Ate quando?
por Edson Ovidio