"Nenhuma coisa deste mundo para ou permanece,
todas passam."
António Vieira
"Vemos
que todo este mundo é vaidade, que a vida é um sonho, que tudo passa que tudo
acaba, e que nós havemos de acabar primeiro que tudo, e vivemos como se fôramos
imortais, ou não houvera eternidade."
António Vieira.
Quando eu era criança eu
gostava de soprar bolinhas de sabão, era-me um sonho ver tudo em torno se
refletindo nas pequenas bolhas. As cenas se distorciam nas paredes brilhantes
das pequenas bolhas. Umas voavam alto e mais alto, como se tivessem vida
própria, cavalgando o vento até bem longe, umas espocavam a poucos metros de
mim, outras eu podia pegar na palma da minha mão. Havia aquelas que desciam, pousavam e rolavam
pelos tecidos macios, outras empurradas de abrupto contra a parede explodiam,
mas invariavelmente, mesmo as que viajavam distantes envelheciam e
estouravam-se. Pareciam refletir tudo, podiam ser todas as cores do íris e de
repente o nada. Ao final tudo voltava a ser apenas uma latinha com sabão um dia
cheio de bolinhas que ficou para trás.
Eu comparo hoje as bolinhas
de sabão a vacuidade de sentimentos mais profundos da vida e a extrema valorização a
seus aspectos externos efêmeros e tão passageiros refletindo todo o valor fugaz
das coisas, suas imposturas, títulos, emblemas, rótulos, posição social,
egoísmos, tudo o que possa estar instalado dentro de si, mas que são propriamente
apenas aspectos da armadura exterior.
Apesar de todo o aspecto
subjetivo e externo que parece nortear as vidas até o túmulo, nosso lastro mais
íntimo que é a nossa essência sempre jaz esquecido. Humanos, nascemos para doar
ao mundo luzes de nossa essência, plenos de capacidades consumimos nossas vidas
na busca de bens; muitos passamos por ela sem perceber que cada um de nós é um
sol.
"....Eu via luzes nas pequenas
bolas de sabão, mesmo no escuro cada uma emitia um brilho particular, davam-me
cores que não estavam lá ".
Por Edson Ovidio