“Ai que ninguém lembra nem o que sonhou (...).Ao largo ainda arde a barca da fantasia e o meu sonho acaba tarde deixa a alma de vigia Ao largo ainda arde a barca da fantasia e o meu sonho acaba tarde acordar é que eu não queria.(madredeus – Pedro Ayres Magalhães)
Mais um ano se inicia, muitos
de nós o adentramos ébrios de esquecimentos e começamos novamente o ciclo de
viver de forma cega e com o nosso velho sentimento arraigado de auto sabotagem,
na contramão de tudo o que fizemos ecoar durante os estertores do final do ano.
Este talvez seja um ensaio cheio
de porquês e ponderações, uma análise de sonhos e fraquezas, sobre o porquê irmos
de encontro do acaso ao invés de efetivamente buscarmos a efetivação de planos
e sonhos.
Já é pleno janeiro, e tenho
lido e ouvido comentários de amigos sem forças, sem garra, sem vontade de
chegar a lugar nenhum, ouço de suas agonias, decepções e tudo parece ser um “Deja
vu”.
A cada novo ano , como se
fossemos aves, arribamos em busca de quimeras e sentimentos legados por grupos
de amigos alheios ao que somos e a o que de verdade buscamos e sonhamos, mutilando
planos e objetivos, tiramos ambos os pés do chão. Passamos todo um ano perdidos
entre as nuvens e as inclemências dos dias, infortúnios, sucessos e então em
bandos, vindo de um lugar qualquer, pousamos no burburinho festivo de dezembro.
Bebemos, refestelamo-nos, muitos choram, muitos riem, outros compartilham seus
sonhos. Nossos sentimentos vão tão à flor da pele, as ideias tanto se aclaram,
os sonhos se acendem e voam tão alto, nossas amarguras se tornam mais amargas,
juramos a nós mesmos que tudo então será diferente sob as primeiras luzes do
ano.
Passo seguinte, mergulhamos
nas nuvens escuras de mais um ano, bravatas e forças são esquecidas nas praias,
vão se embora com os vapores do álcool. Prometemo-nos tanto e então damo-nos
tão pouco.
Que tipo de combustível
nos falta?
Eu gostaria que as pessoas
fossem de verdade como se mostram no fim do ano, que seus sonhos não se
revelassem tão efêmeros, suas vontades de realizá-los se estendessem por todo
um ano. Que os sonhos e desejos de réveillon não fossem apenas garatujas que a
borracha do ano e a vontade pífia tratam de apagar.
Seria tão melhor que a cada
virada de ano nossas memórias não ficassem presas na mesa farta, nos vapores
fugazes do álcool, que o barulho ensurdecedor dos fogos não emudecesse e
destruíssem a força de ir mais além de janeiro e que pudéssemos nos permitir adensar
nossas vontades e efetivamente conquistar passo a passo todos os nossos sonhos
viáveis.
Por Edson Ovidio