Intocaveis |
“A violência faz-se passar sempre por uma contra violência, quer dizer, por uma resposta à violência alheia”.Jean-Paul Sartre
“Eu sou contra a violência porque parece fazer bem, mas o bem só é temporário; o mal que faz é que é permanente”.Mohandas Gandhi
Nesta semana minha amiga
enviou-me um link para um vídeo no qual uma cidadã londrina ferinamente agredia
outros de etnias diferentes que estavam no mesmo vagão
onde ela se encontrava. Desferia
impropérios como se ela fosse a rainha de alguma coisa.
Esse fato chamou-me a
atenção para a forma como as ideias e
filosofias podem de forma tão inusitadas passarem de nossa mente para palavras e ações , assumindo a forma virulenta
do monstro da violência.
Qual o nosso ideário?
Quão mal e cego pode ser o
bem que hoje queremos?
Erguemos muros ou buscamos a
igualdade entre os seres?
A fonte de toda a violência
nasce de todos os desvarios, quer sejam eles voltados pra
para ideias hegemônicas de um separatismo doentio ou do firme propósito de nos rotularmos como uma casta
excludente, para a qual as
aves de outras plumagem sejam definitivamente mantidas ao largo e proscritas por nossa ignorância emblemática contra outras etnias, credos, padrões cultural
estranhos a nós ou por qualquer outra cisma histórica.
Talvez a violência nasça de
nossa boa fé, quando nos predispomos a criar grupos polarizados para direções que
outros não compreendam, sentimentos que atendam a um determinado nicho,
filosofias voltadas para um seleto grupo de idealistas utópicos ou qualquer
outro padrão de pensamento semeado ao vento na busca de um pretenso mundo
melhor.
Um mundo mais a nossa
própria imagem e semelhança e que primeiramente favoreça a nós, nossa
subsistência, a manutenção de nossos iguais e que outros espelhem os nossos
sonhos e os espalhem entre as pessoas de boa vontade, porque nossa é a melhor filosofia,
somos a casta superior, destinados a uma posição de destaque em qualquer lugar
mais além, sob os auspícios de um cuidador!
Será que muitas vezes a nossa certeza de querermos apenas o bem
universal, ao longo do tempo não seja o veneno nas mentes de pessoas de tempos à
frente?
Se pensarmos em algo melhor, queremos
que as pessoas participem do nosso ideal emancipador, brandimos nossas armas de
conquista, mas, de súbito compreendemos que o outro não preenche todos os
requisitos do mundo ideal, voltamo-nos então as nossas armas cheias de boa
intenção contra ele e gentilmente lhe viramos as costas, espalhando intransigência,
porque o outro é diferente, não tem o nosso padrão de ideias. O que
se estendia de dentro pra fora, sem barreiras, passa então a ocupar-se com os
assuntos da nossa autodefesa egoísta e de princípios voláteis e efêmeros,
porque agora passamos a erguer muros altos demais em nosso entorno. Intramuros
precisamos proteger-nos, atrair os iguais, repelir e atacar os contrários.
Não será a violência a
resultante das boas intenções do passado? Do ranço secular levado a frente
pelas nossas crenças, idealismos e mentes que se perderam em algum lugar do
passado?