"Há na minha vida quimeras distantes,
Quais nuvens errantes, em dias atrozes.
Eu corro atrás delas, mas elas, por fim,
Perdem-se de mim, no horizonte, velozes.
Há no meu diário silenciosas dores,
Quais flores que o vento desfaz de manhã.
Com elas me embalo nos dias soturnos,
Dir-se-iam «Noturnos», como os de Chopin....”
Eu corro atrás delas, mas elas, por fim,
Perdem-se de mim, no horizonte, velozes.
Há no meu diário silenciosas dores,
Quais flores que o vento desfaz de manhã.
Com elas me embalo nos dias soturnos,
Dir-se-iam «Noturnos», como os de Chopin....”
Alfredo Brochado (Quimeras)
Quando eu era criança assistia vez por
outra, festivais de balões de gás que subiam muito e cada vez tão mais alto que
pareciam tocar o céu. Eram multicores, alegres, festivos e irreverentes, sempre
em bandos. Para onde iam ou seu dia seguinte eu nunca cuidei de pensar.
Eu teimo em dizer que simplesmente repetimos
inconscientemente o que externamente representamos ou vemos no nosso entorno. Somos
um universo em nós mesmos, somos isso, somos aquilo e passamos muito tempo
sendo apenas balões de gás.
Vazios de vontade exceto do gás que os
impulsiona para cima e então, à mercê do vento, voam e voam até que sem forças
são arremessados de volta ao chão, pisoteados e então ninguém mais sabe deles.
Quando somos jovens, somos semelhantes
a balões, inflamo-nos de quimeras e deixamo-nos conduzir pelos ventos das
vontades alheias, tentamos ultrapassar as nuvens e roçar o céu e então somos
arremessados cada vez mais perto do chão de nossas próprias incertezas e do
nosso vazio.
Hoje em dia, cada vez mais observamos mentes
jovens que seguem ao sabor de sentimentos que não são os seus, ébrios do fugaz do
nada, da falsa alegria que hoje é e que então na ressaca vai embora. O que lhes
importa o dia seguinte, se tudo ontem parecia tão certo e tão mais vibrante,
quando se ria tolamente do que não se sabe o que tenha sido.
O balbucio das frugalidades
costumeiras e a repetição de padrões tão banais impulsionados pelos vapores
etílicos maculam muitas vidas e muitas vezes abrem feridas que tardam e formam-se múltiplas escaras que jamais hão de deixar que você possa refletir
você.
Somos sempre vitimas de nós mesmos, da
irreflexão dos muitos instantes passados, da inconsciência de dias em que voávamos
festivamente tão alto; dias que se se tornaram em nódoas, vincaram nossas peles,
minaram nossas forças quando toda a nossa energia era o voo de um balão de gás.
Por edson Ovidio