Tenho
tanto sentimento
Que
é frequente persuadir-me
De
que sou sentimental,
Mas
reconheço, ao medir-me,
Que
tudo isso é pensamento,
Que
não senti afinal.
Temos,
todos que vivemos,
Uma
vida que é vivida
E
outra vida que é pensada,
E a
única vida que temos
É
essa que é dividida
Entre
a verdadeira e a errada.
Qual
porém é a verdadeira
E
qual errada, ninguém
Nos
saberá explicar;
E
vivemos de maneira
Que
a vida que a gente tem
É a
que tem que pensar.
Fernando
Pessoa, in "Cancioneiro"
As vezes vivemos e vivenciamos a fúria dos sentimentos e
descobrimos o quanto somos escravos de
fatores externos a nós; as angustias, medos e sentimentos outros que sobem
efervescentes tomam-nos a palavra, balançam os sentidos, vibram-nos todas as
fimbrias internas. Como se estivéssemos encapsulados e presos numa camisa de
força tolhidos de sermos nós mesmos, pensadores .
Será que os sentimentos modulam nossa personalidade, o que somos , melhoram a forma
como sentimos o mundo e as pessoas ao nosso redor ?
Ou será que invariavelmente nos envelopamos num dado
sentimentos, o tempo se detêm, nossa
visão se turva e então paramos e nos ferimos sob o peso de preocupações, medos,
paixões.
Sucumbimos, cometemos loucuras, detemo-nos a um palmo de
nossos objetivos nos calabouços do medo ou do desespero.
Nossos
mecanismos de interação com a vida e com as pessoas são as muitas reações que elas
suscitam em nós. Enxergamos o mundo,
nunca por uma visão clara e ações ponderadas e objetivas, mas através da nossa
lente pessoal como se o tempo todo nossos
sentimentos fossem as mãos de quem manipula um fantoche. Agimos e reagimos ante
as pressões externas, seguimos por becos e ladeiras emaranhados nos fios do sentimento que nos manipula ,
atolamos em charcos e por fim voltamos invariavelmente às vias de acesso a nós
mesmos.
Qual
a importância dos nossos sentimentos ?
São
ferramentas de crescimento?
São
estorvos ou âncoras que nos prendem a alguém ou a um momento no passado?
Como
você trabalha os seus sentimentos?
por Edson Ovidio