sexta-feira, 21 de outubro de 2011

OURO DE TOLO (O VÍCIO)


"Procura a satisfação de veres morrer os teus vícios antes de ti.” 
Autor - Sêneca 
"Acabei por convencer-me de que a masturbação era o único grande hábito, a «necessidade primitiva», e que as outras necessidades, como as do álcool, da morfina, do tabaco, não passam de seus substitutos, produtos de substituição. “Fonte - Correspondência (1897) Autor - Sigmund. Freud


"Todos os vícios, quando estão na moda, passam por virtudes.

Autor - Molière, Jean


Essa semana, é uma daquelas muitas com bastantes impressões e por outro lado, eu não sabia sobre o que escrever, porém um ambiente onde estive essa semana foi o gatilho para um encadeamento de imagens e fatos distintos e sem uma aparente conexão lógica e formal entre eles, a não ser o que eu ousaria chamar de vício.

Parece não haver uma fronteira definida sobre o que é gozar com intensidade de uma fase da vida em que os modismos, os ritos de passagem e a sociedade  nos acercam com toda a sua volúpia, licenciosidade e compartamentos padrões de socialização e o ponto em que perdemos-nos  em excessos que progressivamente transformam o hábito em vício, ao ponto em que nos tornemos escravos de necessidades vicerais e nossa higidez fisica e mental  dissolvam-se inclementemente .


Constantemente queremos evidenciar a nós e aos que nos cercam que pertencemos ao universo de machos adultos da espécie ou que formamos  a nata daqueles que conseguem transformar o tédio das reuniões festivas em efervescentes noites movidas pelos vapores etílicos ou por qualquer outro componente da moda que eleve o tônus vibratório de tudo e qualquer coisa que esteja a nossa volta.  Projetamos em nosso inconsciente um mundo e vivenciamos um outro onde fabricamos  alegrias e discursos  que não nos pertencem verdadeiramente e talvez jamais nos lembremos de risos, gargalhadas ou opiniões que demos ou provocamos, fatos bons ou ruins em nosso entorno ou então jamais nos perdoemos pelo o que causamos a outros ou contra nos mesmos sob o efeito alucinógeno e hipnótico do álcool , tragando, inalando ou sorvendo venenos de prazeres pontuais e danos permanentes
Essa semana ultima, estive numa festa e meu foco de observação foi o álcool e seus aliados. Era uma festa de criança, porém a comemoração não se prendia especificamente ao mote da noite ou qualquer outro fato de monta, mas a turbulência festiva produzida pelos ébrios e pelo vozerio exaltado de quem perdera o controle das ações e julgava-se centro de todas as atenções, alguns poucos grupos comedidos conversavam animadamente.
A citação de Freud acima, a mim me parece uma assertiva e os jogos da mente parecem trocar o objeto do prazer individual para algo que se lhe assegure uma evidencia mais abrangente a um grupo maior, necessitamos o tempo todo satisfazer um desejo latente de pertencer ao grupo da moda.

Há aqueles que procuram os prazeres maiores ou evidencias mais latentes de que podem vivenciar algo mais além de si, além do calor da exaltação de um momento festivo familiar, que lhes dotem de superpoderes, como os que já ouvi de um ex-usuário relatando o fato de como sua consciência ganhava um efeito de multiatenção quando ele estava sob seus efeitos.

Há os que tentam voar cada vez mais alto para atingir prazeres que nunca atingiram antes e então são entregam gostosamente aos estertores da morte. E foi numa dessas noites que tive a oportunidade  de ver o quão dilacerantes são as quedas dos Ícaros que voam em direção ao sol.

__Eu andava pelas ruas do Centro velho de São Paulo, era uma noite chuvosa, porém a chuva dera uma trégua e havia ainda poças nas ruas.  A minha frente, depois de vários passos, vi uma cena Dantesca; alguns homens e mulheres participavam de um estranho garimpo de fragmentos em meio ao molhado, todos vasculhando freneticamente as poças rasas. Depois de alguns minutos observando o aspecto macabro compreendi que procuravam droga em meio a água como se lhes fora pequenas pepitas, pequenas preciosidades em para suas mentes.

Encerro este ensaio com um pensamento de Sêneca

““...  a natureza confiou-nos a tarefa de cuidar de nós próprios, mas, se formos demasiado complacentes, o que era tendência torna-se vício. Aos atos necessários juntou a natureza o prazer, não para que fizéssemos deste a nossa finalidade, mas apenas para nos tornar mais agradáveis àquelas coisas sem as quais é impossível a existência. Se o procuramos por si mesmo, caímos na libertinagem. Resistamos, portanto, às paixões quando elas se aproximam, já que, conforme disse, é mais fácil não as deixar entrar do que pô-las fora.
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
Por Edson Ovidio


2 comentários:

Anônimo disse...

achei incrivel, demais!!!

Larissa Gil disse...

irado! Parabéns pelo texto,.
Vou ler agora todos e acompanhar o blog.

bjsss