sábado, 21 de abril de 2012

SENTIMENTOS


Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

As vezes vivemos e vivenciamos a fúria dos sentimentos e descobrimos  o quanto somos escravos de fatores externos a nós; as angustias, medos e sentimentos outros que sobem efervescentes tomam-nos a palavra, balançam os sentidos, vibram-nos todas as fimbrias internas. Como se estivéssemos encapsulados e presos numa camisa de força tolhidos de sermos nós mesmos, pensadores .

Será que os sentimentos modulam nossa  personalidade, o que somos , melhoram a forma como sentimos o mundo e as pessoas ao nosso redor ?

Ou será que invariavelmente nos envelopamos num dado sentimentos, o tempo  se detêm, nossa visão se turva e então paramos e nos ferimos sob o peso de preocupações, medos, paixões.

Sucumbimos, cometemos loucuras, detemo-nos a um palmo de nossos objetivos nos calabouços do medo ou do desespero.

Nossos mecanismos de interação com a vida e com as pessoas são as muitas reações que elas suscitam em nós.  Enxergamos o mundo, nunca por uma visão clara e ações ponderadas e objetivas, mas através da nossa lente pessoal como se o tempo todo  nossos sentimentos fossem as mãos de quem manipula um fantoche. Agimos e reagimos ante as pressões externas, seguimos por becos e ladeiras emaranhados  nos fios do sentimento que nos manipula , atolamos em charcos e por fim voltamos invariavelmente às vias de acesso a nós mesmos.

Qual a importância dos nossos sentimentos ?
São ferramentas de crescimento?

São estorvos ou âncoras que nos prendem a alguém ou a um momento no passado?
Como você trabalha os seus sentimentos?



por Edson Ovidio

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