sexta-feira, 11 de março de 2011

SER CRIANÇA





As crianças têm de ter muita paciência com os adultos.
Saint-Exupéry, Antoine de

As pessoas crescidas têm sempre necessidade de explicações... Nunca compreendem nada sozinhas e é fatigante para as crianças estarem sempre a dar explicações.

Saint-Exupéry, Antoine de

Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança.
Victor Hugo

Você já tentou rememorar os seus dias de criança, quando todos os dias tinham  uma magia especial, a despeito de todos os possíveis problemas dos seus guardiões em torno, tudo parecia ter um toque especial; éramos bem acolhidos em todos os círculos de crianças ainda que estranhos a você e seu foco de atenção era apenas para o momento?
Em que ponto de sua vida essa magia desapareceu?
Você já adentrou algum circulo de adultos onde a hipócrita rompante dos títulos e cargos diziam muito mais alto do que qualquer senso de competências ou que o seu próprio clamor igualdade e essência?
Filosoficamente eu comparo o crescer a uma transformação sinistra de uma borboleta em lagarta como se afrontássemos a natureza, num ciclo inverso em que a flor ao invés de ser o prenúncio de frutos, fortifica a raiz que sufoca e torna tudo estéril em torno de si.
É imperioso continuarmos a  ser crianças ou mais precisamente, perceber essa essência viva do si mesmo, sentir a alegria e a felicidade incondicionais, pureza de sentimentos. Essa questão tem nada a ver com isentar-se de responsabilidades ou enxergar o mundo através de uma ótica minimalista ou excessivamente irresponsável. Tem muito a ver com a questão de sensibilidade, sutileza de como observamos o mundo e respondemos a seus estímulos, nossa abertura às minudências dos fatos naturais e como a sociedade e a educação que recebemos de nossos pais nos contagiam com valores, idéias, preconceitos, tendências, comportamentos que, de certa forma, estreitam nosso entendimento das coisas e pessoas, entorpecem nossa auto-percepção e nos tornam duros, irascíveis.
 No livro “O Mundo de Sofia” lê-se que as crianças são os verdadeiros filósofos. Tenho cá comigo que  essa é uma boa assertiva .A inclemência das preocupações adultas  tem o foco no passado ou no futuro  ao passo que  dentro dos muitos porquês  da vida infantil a criança percebe, sente e vivencia sempre o agora, se atenta aos mínimos detalhes e esta pronta para o inesperado.
 Será que as crianças não são sábios que lentamente tratamos de desguarnecê-las, desmuniciá-las e desequipá-las para a vida adulta; etapa na qual o agora perde qualquer importância?
_Será que a vida é um jogo dramático, injusto cheio de regras e convenções ou uma experiência lúdica da qual muitos esqueceram-se do “fair play”, um jogo mal jogado?
Os jogos sociais adquirem peso e relevância à medida que crescemos, todavia a dramaticidade e alguns aspectos imponderáveis, que só nós individualmente sabemos quais sejam, nos transformam em adultos estigmatizados e com uma farta sementeira de idéias deformadas com as quais lutamos durante a existência para “des-semear” e desaprender os preconceitos e desestigmatizarmo-nos dos tabus e processos legados
Faz algum tempo que tenho permitido que as convenções, não - podes, vernizes, tintas e cosmeticidades da vida adulta sejam permeadas pela sabedoria lúdica do dias de criança. É imperioso, todavia, ser um bom ator, sutilmente perfeito, porque a vida é de fácil observação, as crianças são simples, os adultos são complicados em demasia e as regras se lhes impõem a perda de contato consigo mesmos.
 Com muita freqüência, assumimos algumas máscaras e posturas de atuação sob o jugo das quais nos perdemos e mesmo perdemos a condição de humanos.

Vezes e vezes deparamo-nos com nossa imagem de doutores honoris-Causa de coisa alguma dominados por defeitos que erigidos sobre as tintas da arrogância, egoísmo e apagamos essa essência da sabedoria intrínseca da criança em nós, perdemos o sentido da vida endurecemos o coração ocultando nossas ineficiências, incapacidades e incompetências atrás de títulos, cargos e posições sociais.
O que tento discorrer nesse ensaio não é sobre a promoção de uma imbecilidade em potencial, mas sim estarmos abertos as questões de sensibilidade, observar o mundo tal qual uma criança o faz, um olhar despido das roupagens e preconceitos sem as tendenciosidades de um mundo eivado de hipocrisia e aparências. Também sou partidário das idéias de Einstein que sugeria que os professores deveriam desenvolver a curiosidade e a imaginação das crianças.
Quando criança, queimei diversos fusíveis em casa construindo eletroímãs e já me assustei bastante com as explosões de recipientes brincando de propulsão; sem ajuda uma criança não vai muito longe, todavia acho que minha infância é bem um retrato da sua própria.
 Do meu  arsenal de possibilidades eu parti para a vida adulta com uma carga aquém das minhas possibilidades, acho que todos, assim com eu próprio, saímos para a adolescência com o embornal furado, nossa percepção de fatos e coisas se estreita, nossos múltiplos talentos se resumem a possibilidade do mais fácil, apagamos os registros da curiosidade juvenil e não lapidada pelos nossos pais, caímos nas diversas ciladas da idade média da adolescência e no obscurantismo da vida adulta, in suma desinventamos o que naturalmente somos, perdemos ao longo do caminho nosso verdadeiro lato sensu de nos mesmos
Enfim a mensagem desse ensaio é: _ Pais não tentem construir o que já está pronto. Dê a seus filhos apenas as linhas mestras necessárias e eles saberão construir um mundo muito melhor e maior que o seu. Ajude-os nos questionamentos cotidianos, aprendam com os seus filhos, eles não tem preconceitos ou tabus .Permita que eles carreguem consigo , os tesouros que naturalmente são seus.
Senhores Adultos, prontos para um “Recall”? Vamos tirar a gravata da alma, essa vida é uma experiência lúdica muita curta; então Vamos juntar o que de nos ficou esquecido lá na infância, sua melhor potencialidade, inventividade, ação, curiosidade, determinação, ousadia, companheirismo, cordialidade, humanidade.
Esta é a minha visão para esse ponto especifico, espero que se some a sua ou que seja uma hipótese ou que possa fazer você considerar esse assunto ou mesmo uma antítese a tudo o que até agora se pensou sobre o assunto.
Até a próxima postagem.


Por Edson Ovídio


Um comentário:

Tamara Queiroz disse...

Ed, o seu texto está riquíssimo! Mas vou limitar o meu comentário em "Todo adulto tem inveja, todo adulto tem inveja, todo adulto tem inveja dos mais jovens".

E, puxa, adorei muito, mesmo, a primeira frase de Exupèry. É uma verdade doída.