terça-feira, 12 de julho de 2011

A MENTIRA




Mentira


"A mentira apenas é um vício quando faz mal; é uma grande virtude quando faz bem François Voltaire

"O que tem feito mal a muita gente não é a mentira; é o invólucro de palavras artificiosas com que se doira a algema que as verdades lançam ao pulso do homem.                   Camilo Castelo Branco

A mentira mais frequente é aquela que alguém faz a si próprio; mentir aos outros é um caso relativamente excepcional.
Friedrich Nietzsche

Neste ensaio gostaria de ampliar o conceito da mentira, desqualificá-lo como um mecanismo unicamente da fala e que causa repulsa e asco a quem o entenda assim e estendê-lo a nossa personalidade sobre a qual ancoramos princípios e conceitos.
Todos nos mentimos, isso é um fato, ainda que muitos não admitam a si mesmos.  Quer por isso, ou por aquilo, quer por fatores religiosos, falso moralismo ou pela forma distorcida como lidamos com nossa realidade interna e externa. Nossa autoindulgência oculta nossas micro e macro falhas, as pequenas e grandes fissuras que criamos em nós mesmos e que, de repente,  podem tornar-se desfiladeiros.
Não seriam as múltiplas facetas de nossas personalidades mentiras que incorporamos em torno do mesmo assunto?  O EU?
Com que frequência somos coerentes com os nossos pontos de vista?
Somos seres parte de um todo maior, emitimos cotidianamente pareceres que podem ir bem além do nosso mero circuito  familiar  e que podem ganhar  o mundo com grande velocidade. Muito do que pensamos talvez contrariem realidades que ainda não caibam em nossos pequenos cadinhos conceituais.
Quando falamos de Mentira e verdades, parece-me que lidamos com conceitos elásticos, ao passo que se falamos sobre realidades falamos tão somente da imagem que se forma sobre a tela onde projetamos o nosso foco de observação ou a coisa que podemos  medir, pesar, tocar, cheirar, ver , sentir.
Num contexto maior talvez a mentira se dissolva em conceitos que podem tornar-se o centro de ideias ou antíteses  e  reunir ao seu redor seres que comunguem com visões  desfocadas, fragmentadas ou equivocadas sobre um tema.
Grosso modo, todos os conceitos são relativos, mesmo os que pensamos sobre nós mesmos e se tornam mentiras quando se antagonizam com o nosso ideário particular ou de outrem, contrariam nossa visão direta sobre fatos, coisas ou eventos ou estão em contraponto com a unanimidade de outros. Mas então, uma vez mais a unanimidade não é prova incontestável de uma verdade e sim uma visão relativa sobre um determinado ponto ou realidade.
A semântica da palavra talvez possa gerar muitas divagações a seu respeito. Acho, porém que a noção mais concreta e que mais caiba em nosso referencial seja apenas a que impressione nossos sentidos ou da cabal prova que emitimos pareceres não aceitáveis sobre uma realidade.
Dentre as muitas mentiras que possamos produzir nada causa mais dano do que a divergência entre a forma com pensamos e a maneira como agimos, sobre as ideias que defendemos  e a nossa contrapartida na vida. Pele  adentro, caminhamos pelos caminhos mais fáceis, entre lisonjas e nos desviamos dos auto enfrentamentos então pouco se nos importa as mentiras internas se estão satisfeitos os nossos sentidos externos.

Por Edson Ovidio

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