sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

BOLINHAS DE SABÃO





"Nenhuma coisa deste mundo para ou permanece, todas passam."
António Vieira


"Vemos que todo este mundo é vaidade, que a vida é um sonho, que tudo passa que tudo acaba, e que nós havemos de acabar primeiro que tudo, e vivemos como se fôramos imortais, ou não houvera eternidade." 
António Vieira.

Quando eu era criança eu gostava de soprar bolinhas de sabão, era-me um sonho ver tudo em torno se refletindo nas pequenas bolhas. As cenas se distorciam nas paredes brilhantes das pequenas bolhas. Umas voavam alto e mais alto, como se tivessem vida própria, cavalgando o vento até bem longe, umas espocavam a poucos metros de mim, outras eu podia pegar na palma da minha mão.  Havia aquelas que desciam, pousavam e rolavam pelos tecidos macios, outras empurradas de abrupto contra a parede explodiam, mas invariavelmente, mesmo as que viajavam distantes envelheciam e estouravam-se. Pareciam refletir tudo, podiam ser todas as cores do íris e de repente o nada. Ao final tudo voltava a ser apenas uma latinha com sabão um dia cheio de bolinhas que ficou para trás.

Eu comparo hoje as bolinhas de sabão a vacuidade de sentimentos mais profundos da vida e a extrema valorização a seus aspectos externos efêmeros e tão passageiros refletindo todo o valor fugaz das coisas, suas imposturas, títulos, emblemas, rótulos, posição social, egoísmos, tudo o que possa estar instalado dentro de si, mas que são propriamente apenas aspectos da armadura exterior.

Apesar de todo o aspecto subjetivo e externo que parece nortear as vidas até o túmulo, nosso lastro mais íntimo que é a nossa essência sempre jaz esquecido. Humanos, nascemos para doar ao mundo luzes de nossa essência, plenos de capacidades consumimos nossas vidas na busca de bens; muitos passamos por ela sem perceber que cada um de nós é um sol.

"....Eu via luzes nas pequenas bolas de sabão, mesmo no escuro cada uma emitia um brilho particular, davam-me cores que não estavam lá ".



Por Edson Ovidio




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